Cada vez que me dou ao trabalho de abrir a página on-line do Publico deparo-me, para meu desgosto, com notícias referentes à actualidade social e politica portuguesa, bem como a estrangeira vista pelos olhos e mãos dos jornalistas portugueses. A visão exterior (privilegiada) permite-me ler as notícias sem estar no seu contexto, dá-me a capacidade de perceber o quão ridícula e ignorante é a nossa "classe politica / jornalística". Se, desde já, ao observar as pessoas em causa (deputados, ministros, "jet set", escritores, colunistas, etc.) consigo retirar a enorme incompetência e "pequenez" neles presente, ao ter o trabalho de ler o que se escreve / diz no parlamento / opinião publica (ou publicada) torna-se nítida e escandalosa a ineficácia e incoerência que paira sobre o nosso pais perante uma população completamente indiferente e inerte.
É certo que as pessoas hoje em dia vivem dentro de cápsulas, dentro de um mundo muito próprio. Não falo só de Portugal (critica por demais feita mas ainda incompleta), cada um se preocupa apenas com os seus assuntos, questões, dúvidas ou problemas. Vivemos num mundo egoísta, falso e hierarquizado. A preocupação de um cidadão (podemos pensar num português, é mais fácil) é ter ou não lugar para o carro ao pé de casa. Incomoda-lhe o preço da gasolina, mas não se lembra do Mercedes na sua garagem, que de longe não poderia comprar, símbolo de um "status" que não possui. Hipócritas.
Ninguém se preocupa com nada, mea culpa. A política mundial é o reflexo da sociedade global cansada e rendida ao egoísmo. Se criticar Portugal é fácil, e também divertido, o resto do mundo sofre também da mesma síndrome. A chamada "aldeia global" (conceito falso, ilusionista, que nos faz pensar que temos o mesmo acesso a informação bem como a mesma importância que um americano) aquece os nossos ouvidos com uma divisão por todo o mundo dos problemas da nossa rua. Alguma vez alguém no Reino Unido se preocupa se assaltarem o meu apartamento na Av. De Roma? Alguma vez alguém na Av. De Roma se preocupa com o Palestiniano que perdeu uma perna num atentado em Israel? Obviamente que não. Mas o António que vive no Areeiro preocupa-se com o apartamento assaltado, porque podem vir assaltar o dele. Tal como outro qualquer Palestiniano se preocupa com o camarada vítima do estilhaço, porque não quer ele mesmo perder nenhum membro do seu corpo. É isto a "aldeia global"?
Quem, no seu perfeito juízo, se preocupa mais com o cigarro fumado pelo seu PM a bordo de um avião fretado do que com a visita de estado a um pais que está nas "bocas do mundo"? Talvez os mesmos que chamam aos americanos ignorantes e incultos por não saberem onde fica Portugal, ou os mesmos criticam os franceses por terem o seu presidente em toda e qualquer publicação acompanhado da sua "conquista". Estamos todos no mesmo saco. O saco da "Aldeia Global". É um saco pesado e inútil que as próximas gerações irão carregar até à exaustão.
sexta-feira, 30 de maio de 2008
"Aldeia global"?
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2 comentários:
"anda eufórica toda a gente com a era da informação fechada em casa ligada à rede ou grudada à teelvisão na vertigem das notícias em constante circulação sempre mais e mais depressa tornou-se a grande obsessão "é a aldeia global" - explicam num júbilo imbecil, prontos a desfilar o rosário de maravilhas dos novos tempos, sem discernirem que aldeia sempre foi o sinónimo de isolamento e conformismo, de mesquinhez, aborrecimento e mexerico e que, de qualquer modo, o que verdadeiramente importa se mantém secreto.",
mão morta, 1998
1998...
Sagrados sejam. Visionàrios foram.
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