Pisei a estrada sem olhar, sem atenção, sem querer pensar em mais nada. A chuva batia-me na nuca e descia até às minhas costas. Na minha cabeça ouvia os barulhos de uma cidade turbulenta, senti o cheiro do pecado, vi reflectido o meu passado obscuro. Era o cinismo de um urbanismo deprimente, um jogo de luzes que me confunde. Atravessei a rua. Nos cafés as mesmas pessoas olhavam-me com desdém, com o desprezo de quem pertence à "sociedade de consumo", definição de um conjunto de indivíduos perdidos no meio da frustração de ter um objectivo comum. É o paradoxo de um individualismo colectivo. Ignoro-os enquanto abro a velha porta do número 5. Este ritual era-me familiar. Não sinto as pernas, olho para a rua vazia de pensamentos e despeço-me de todas as almas inanimadas que preenchem o cenário cabisbaixo da energia urbano-depressiva. Subo as escadas imundas que rangem criando uma música que podia bem ser a banda sonora do meu filme. Sento-me no último degrau e discuto com as paredes frias o porquê do meu destino. Elas não me ajudam, acho que ninguém me pode ajudar. Estático diante da porta dela o meu cérebro discute com o meu braço se devo ou não tocar. Eu não intervenho, deixo-os discutir enquanto vejo através da porta o quadro que lhe ofereci. Era bonito o quadro, transmitia-me uma sensação de segurança. O braço ganhou a discussão e bato confiante na madeira húmida. Os 20 segundos de espera foram suficientes para rever todos os momentos que passamos juntos, todos. Foram tantos. Momentos que ela esqueceu, momentos que eu guardei. Sorri quando percebi que ela não estava, a porta não mexia, o silêncio ocupava o ar. Desci as escadas enquanto mantinha um sorriso estúpido. Estava aliviado. A ironia de quem procura e não encontra. Ela não estava em casa. Ela não estava em casa.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Desespero
Uma névoa no horizonte reflectia o ar poluído enquanto abria a janela. Senti a brisa penetrar as narinas e entrar no meu cérebro livre de pensamentos, um arrepio assustador tomou conta da minha alma. Acendi um cigarro e abri o whisky velho que estava perdido num armário por debaixo de todos os pacotes de café barato que roubei há uns meses de uma desconhecida. A névoa invadiu o meu quarto por entre o fumo do cigarro. Pousei o copo sujo de pecado e agarrei desesperado a fotografia dela. Apaguei o cigarro num cinzeiro coberto de beatas que contam a história de uma vida desleixada. Liguei o vinil e deixei-me cair no sofá, era o ritual diário de que tenta esquecer aquela moldura. Acabo o whisky, atiro o copo para o balcão e penso em todas as vezes que ela disse que me amava, palavras falsas cobertas de uma transparência semelhante ao ar que respiro no espaço apertado do meu quarto. Levantei-me combalido até à casa de banho enquanto o meu peito desfalecia perante a imagem do cabelo dela a ser tocado por alguém que não eu. Tomei banho de água gelada. A música fazia-me lembrar aquele por do sol em que deitados fizemos juras de amor. Eu fiz, ela mentiu. Não senti o frio da água, não sinto nada, só queria que ela também estivesse a sofrer, que lhe estivesse a doer o coração como a mim, que sentisse os pés dormentes, as mãos duras. Sequei-me indiferente. As lágrimas já não caem, perdi os sentimentos, perdi o calor que tinha quando ela me segurava o braço e o sorriso dela iluminava o meu universo. Era um sorriso que fazia o sangue correr nas minhas veias, um sorriso que agora já não é para mim. Estou no chão de joelhos. A janela continua aberta e a brisa faz com que os papéis em cima da minha secretária dancem ao som de uma música estranha que parece pedir que acabe com o meu sofrimento. Visto-me sem qualquer tipo de preocupação, desligo o vinil e saio pela porta num andar perdido, calmo, psicótico. Tenho de a ver.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Portas, BAH!
"Quando uma porta se fecha, outra se abre", quem acredita em tal frase pseudo-metaforica devia estar no mesmo café coberto de drogas e álcool onde se encontram e discutem todos os românticos ignorantes, teóricos e idealistas, que escrevem sobre experiências que nunca passaram. Quando uma porta se fecha meus amigos, a única coisa que se abre é uma ferida. Se por acaso procurar-mos outra porta, ou eventualmente abandonar-mos a porta fechada, será na procura de apagar a magoa que deixou aquela porta trancada.
Sou um eterno revoltado (e apaixonado) contra os que acreditam que existe alguma explicação filosofico-romantica para qualquer coisa na vida. Diria que eu e essas pessoas mantemos uma relação de amor - ódio. A vida não é mais que uma passadeira de emoções, oportunidades e decisões. Não existem "portas abertas ou portas fechadas", existem chaves certas ou erradas. A chave certa irá abrir a porta certa.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Expresso Oriente
Na quarta fui tomar um copo com o meu caro amigo Francisco, chileno de origem, que passou os seus últimos 5 meses nos encantos da minha futura pátria. Recolhi informações extremamente úteis, começando por tomar conhecimento de que os chineses são dementes. Só assim a seco, são dementes e ponto final. Não discuti. Soube também que os chineses não têm cobertura pilar (não me vou pronunciar sobre as chinesas, considero territorio que nunca irei explorar - a Isabel lê o blog), surpreendem-se quando se deparam com a camisa aberta que mostra um peito ostententando uma quantidade suficiente de pelos que faz de mim / vos um Homem, e do Pombo um fenómeno. São pequenos e rapados estes amigos (?) de olhos rasgados. Disse-me ele também que os bares / discotecas encontram-se espalhados por vários andares de um qualquer prédio, e existem desde clubes de jazz simpáticos a discotecas de drogados com aquela música que me faz lembrar as obras do meu vizinho do lado. Eclético, como o Benfica. Por falar no melhor (e mais eclético) clube do mundo, Hong Kong tem um campeonato de futebol, melhor, com uma forma física aceitável (chileno's talk) jogas na terceira divisão. Não é brincadeira, o chileno jogava efectivamente numa equipa da terceira divisão Hong Kongonense (Hã?). Aspiro a um dia, com treino, dedicação e muito trabalho, jogar pela selecção de Hong Kong. O meu nome na altura será 說, curto mas catchy. Algo que me agradou saber também, foi que as praias fora do "centro" são muitas e paradisíacas, apanhas um barco com amigos (de 20 a 40) e passas um dia simpático de praia deserta em praia deserta pela módica quantia de 20€, parece-me bem, mal posso esperar para ver mar, sol, areia, e o tal barco.
Informação extra, e de carácter cultural, existe um Buda gigante em Hong Kong, faz atenção, Buda - Gigante, do tamanho do Colombo, logo o maior Buda do universo. Acho que se vê do espaço, é um Buda do ca*.
Até mais
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Os assasinos
Quem melhor para explicar. São vocês que fazem com que alguma coisa tenha sentido.
http://www.youtube.com/watch?v=mFl7fmOJ4ms&feature=related
Bad time
Vida é diferente de morte. Quando falo de morte, falo de uma morte com estilo, para ser recordada de geração em geração. Não é medo de morrer, é querer correr com pompa, uma morte enriquecida de valores há muito esquecidos. A tradição já não é o que era, dizem os cépticos, mas para mim a morte continua a ter um encanto fabuloso. Sempre que morres renasces, cresces para toda uma existência que perdeste em tempos de uma glória não evocada. Somos fruto da nossa experiência, árvore de encantos que cobrem a nossa imagem de um negro assombroso. É a morte, o fim a chegar perto da nossa presença, mas não é a morte como se conhece, é a morte que se recorda, que se fixa no imaginário e nos permite viver para todo o sempre. A morte que começa a historia que escreveu livros, a morte que acaba o que de bom foi levantado, o fim que nos acolhe com honra e orgulho.
Não te iludas com o tempo que vives, nada fará sentido se não morreres. A morte leva a que o fugaz momento em que te entregas se torne mágico, aquele instante em que te recordas e és recordado por uma presença ilusória numa realidade criada por um ser. Nunca te iludas. Nunca. Se não tiveres um final, nunca tiveste um começo. Ninguém arrisca uma aventura sem saber que ela irá acabar. Ninguém encontra motivação para fazer o que não poderá ser acabado. Cito: "Não comeces algo que não podes acabar". Referência de uma vida com um destino, a morte.
Enganados os que pensam que o período de experiência é uma oportunidade, não a temos. Olha à tua volta e descreve-me a justiça que procuras. Justiça? Que justiça? Perdão, justiça? Tremo de pensar nessa possibilidade.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Hã?!
Tu percebes que alguma coisa não está bem quando estás sozinho num bar Australiano a beber cervejas e a ver o Celtic - Manchester United com fanáticos das duas partes.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Liga dos campeões
Ora, o Gourcouff será dentro de pouco tempo um dos melhores jogadores do mundo. O número 19 do Cluj, de seu nome Culio, tem tudo para sair da Roménia e ser alguém na vida. O capitão regressou, a Roma acordou. Escandaloso o roubo em Anfield (honestamente estas coisas têm de deixar de existir na CL...). O Inter marcou 7 golos (José está a ficar maluco, o futebol italiano não é para todos). Sporting salva a honra do pais, os meus parabéns.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Resumo
Falemos então do jogo deste fim-de-semana. A chegada a Madrid não foi nada fácil, a equipa chegou cansada e com algum atrasado o que fez com que o reconhecimento do terreno para o jogo de sábado fosse mais curto, mesmo assim vimos a equipa confiante e motivada, notava-se a vontade na cara de cada um dos elementos, todos queriam estar bem para sábado e mesmo num curto espaço de tempo o rendimento foi incrível. A moral era tanta que os elementos chegaram a levantar a taça ainda na sexta-feira. No sábado tudo se confirmou, a equipa esteve impressionante, uma exibição das melhores a que já assistimos. Destaque para a força de vontade e sacrifício de DA e MA que se sacrificaram em prol do rendimento colectivo, em especial MA que acabou por marcar o golo da vitoria num lance em que teve uma grande ajuda da estrela DA. Em declarações finais AT disse: "Estava um jogo extremamente equilibrado, lances de parte a parte, jogadas muito perigosas e até algumas entradas duras, mas DA deu o empurrão que faltava à equipa e lançou MA para uma finalização quase perfeita num lance já estudado anteriormente.", acrescentou PB: "Foi um prazer estar neste jogo com esta equipa, dá gosto ver a forma apaixonante com que cada jogador disputa cada lance, o golo de MA é um grande exemplo disso mesmo.". O capitão AS não estava em si depois dos festejos: "é inacreditável o que fizemos aqui em Madrid, nunca pensei que conseguíssemos esta união e querer. Queria sublinhar a exibição do outro mundo de DA, já sabíamos que ele estava em grande forma mas tanto no lance do golo como no final do jogo na ajuda a manter o resultado, foi de uma entrega e esforço magnificas.".
E foi tudo aqui de Madrid.