sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Adeus

Olho através da janela a rua molhada, está coberta de folhas pisadas, estranhos vagueiam sem nexo por entre uma névoa misteriosa. Pouso o copo do whisky violentamente sobre a mesa de madeira velha, destruída pelo tempo, passámos bons momentos, eu e ela. A cadeira range enquanto preparo outra dose, o eco do líquido ocupa toda a sala, a janela abre-se numa brisa passageira. É a minha despedida. Agarro no meu caderno vazio de ideias, reparo nas páginas brancas, ocultas de pensamento, e deixo cair os braços. A caneta usada passeia-se nos meus dedos enquanto eu me lembro daquele dia. A minha tentativa de apagar a memória numa garrafa de sonhos foi inútil, a imagem da dor persegue-me, o cair da noite na minha janela intensifica o meu sofrimento. Deixo-me cair, um peso morto, sem coração, sem força, sem vontade, sem coordenação, apenas com aquela imagem. Fecho os olhos, despeço-me.

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